A peça "Memórias de Rádio" entra em cartaz de 03 à 05 de abril no Teatro de Arena do Sesc em Rio Branco

Fotos: Alexandre Moraes


Uma peça teatral que amplifica vozes e silêncios de experiências sufocadas. Esse é o tema central de Memórias de Rádio. A peça fica em cartaz no Teatro de Arena do Sesc, no Centro de Rio Branco, entre os dias 3 e 5 de abril, com apresentações gratuitas. (Confira a agenda no final do texto)

A trama é entrelaçada pela simultaneidade de tempos e espaços, com referências às rádios da década de 1970, aos movimentos de rádios livres e à censura que impera independentemente do recorte histórico. 

A narrativa segue três personagens principais: a dona de bar Valda, Sara, uma dona de casa, e Francisco, o elo entre esses dois mundos. Reflexões sobre papéis sociais impostos apresentam-se por meio de diálogos intensos e fragmentados, que são conectados e condicionados pelas ondas sonoras do elemento central da narrativa: o rádio.

A peça é um convite à reflexão sobre tempos, espaços e as múltiplas camadas da vida cotidiana. A montagem é coordenada por um grupo de cinco mulheres, majoritariamente mães, professoras e pesquisadoras, que persistem em produzir arte na Amazônia acreana e é resultado de um longo processo de pesquisa e experimentação cênica.

A artista Juliana Jaya, integrante do grupo, destaca que a peça é, acima de tudo, uma manifestação da vontade de continuar produzindo arte de forma autêntica e desafiadora.

"É a vontade que nós temos de continuar produzindo arte, de dizer o que queremos dizer, do modo que desejamos, assumindo riscos, enfrentando debates e normas que tendem ao encarceramento do pensamento", afirma.

Ela ressalta que esse enfrentamento é feito com integridade e honestidade, mesmo que não seja sem dor ou consequências.
Um dos elementos centrais da peça é o rádio, que surge como um personagem indissociável da trama.

"O rádio produz desejos, sonhos, vontades que passam a ser o desejo real daqueles que o ouvem, mesmo que estejam envolvidos em realidades totalmente distantes do imaginário que ele produz", explica Juliana.

A analogia se estende às redes de comunicação contemporâneas, questionando até que ponto nossas vontades e desejos são realmente livres ou teleguiados.

A montagem desafia a linearidade narrativa, refletindo a simultaneidade da vida real.
"A nossa vida não é linear. Essa falsa sensação de linearidade nos dá um conforto em achar que podemos controlar nossas vidas, mas as coisas estão acontecendo simultaneamente, sempre", comenta a atriz.

Além disso, a peça brinca com outras linguagens, como projeções e personagens interpretados por máquinas, rompendo com os moldes clássicos do teatro europeu. "Talvez incomode um pouco alguma mente mais cartesiana que for assistir", provoca Juliana.

A necessidade de contar essas histórias, segundo a artista, está ligada à urgência de abordar os silêncios do imaginário da cidade.

"Nos interessa mais nos aproximarmos dos seres de carne e osso que habitam esta terra, da qual nós, atrizes, também fazemos parte", diz.

A artista ainda conclui falando sobre como essas histórias se aproximam da audiência.
"São narrativas que poderiam ser de avós, pais ou mães, tão próximas e íntimas, mas também distantes, como um passado onírico de cidades e hábitos que não existem mais. Pessoas que, em sua maioria, são socialmente organizadas para serem esquecidas. A necessidade de contar essas histórias se dá no sentido de se colocar artisticamente em oposição a essa dinâmica."

A peça é baseada na dramaturgia de Gerson Albuquerque, com encenação do Grupo Beco e realização da Caos Produções. O projeto foi aprovado no edital da LPG Arte e Patrimônio da Fundação de Cultura Elias Mansour.



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