No dia 19 de novembro de 2023, uma denúncia anônima feita na Ouvidoria do Ministério Público do Acre sobre a movimentação frequente de pessoas monitoradas com comportamento suspeito em uma rua de casas luxuosas, no Conjunto Vilage Wilde Maciel, em Rio Branco, disparou uma investigação sobre um promotor do Ministério Público do Acre estar recebendo, em casa, criminosos.
No ato da denúncia, o(a) comunicante escreve que: “Nessa rua existe uma grande movimentação de pessoas que usam aquelas tornozeleiras eletrônicas. Tem crianças pequenas e pessoas idosas que ficam a sós durante o dia, tenho muito medo dessa movimentação, pois eles passam olhando para as casas. Essa movimentação existe pois eles frequentam uma casa aqui na rua [excluímos essa informação pois o promotor não tem mais endereço no local], no Conjunto Vilage Wilde Maciel. Tenho conhecimento que nessa casa mora alguém que trabalha no ministério público”, é a denúncia.
Em atendimento à denúncia, o Núcleo de Apoio Técnico do MP/AC montou vigilância na região da casa citada entre os dias 20/02/2024 e 05/03/2024. Logo no primeiro dia, a equipe de se deparou com dois homens em uma moto, cujo garupa portava tornozeleira eletrônica e entrou na residência (veja fotos abaixo).
Foto: NAT-MP/Relatório de Inteligência obtido e divulgado pelo Ecos da Notícia
Minutos depois, o homem monitorado saiu da casa mas foi seguido pela equipe de vigilância e identificado como Luís Fernando dos Santos Oliveira, de 26 anos. Ele foi preso em 03/05/2023 enquanto, juntamente com comparsas, se dirigia para a Bolívia em uma camionete roubada. Antes, armados com dois revólveres e uma escopeta, o bando invadiu uma colônia e rendeu as pessoas que estavam lá. Por causa deste crime ele estava em liberdade com o uso de tornozeleira eletrônica.
Com o passar dos dias em vigilância, a equipe de investigação do Ministério Público registrou chegando à casa de Tranin o monitorado Sávio Guedes Oliveira, de 21 anos, batizado na facção Comando Vermelho e mencionado por tráfico de drogas, homicídio e roubo.
Foto: NAT-MP/Relatório de Inteligência obtido e divulgado pelo Ecos da Notícia
A investigação solicitou ao Instituto de Administração Penitenciária do Acre – IAPEN que buscasse registros de geolocalização de monitorados por tornozeleira por tempo igual ou superior a 15 minutos na casa do promotor Tales Tranin nos últimos 90 dias. De acordo com o IAPEN, 33 visitas podem ser comprovadas por meio do sistema. São os nomes, além dos dois já mencionados:
1.João Alves da Rocha Neto, condenado por tráfico de drogas e roubo, com cadastro e senha na facção Bonde dos 13;
2.Raimundo Rafael Silva Alves, supostamente pertencente ao Bonde dos 13, preso por roubo e porte de drogas;
3.Everton Ferreira da Rocha (duas vezes);
4.Alexsandro Mesquita de Souza e Silva;
5.Gleydson Ferreira Amorim (duas vezes), tem cadastro no Comando Vermelho pelo vulgo Bola de Fogo do Trem, condenado por tráfico de drogas;
6.Sebastião Luiz Vieira do Nascimento Júnior (três vezes);
7. José de Araújo e Araújo (três vezes);
8. Ruan Cleber da Silva Moura (três vezes), tem cadastro no Comando Vermelho pelo vulgo Arcanjo da Morte, condenado por tráfico de drogas, roubo e crime contra o Sistema Nacional de Armas;
9. Itallo Ricardo Fernandes da Silva, tem cadastro no Comando Vermelho pelo vulgo Sem Noção, preso por roubo e por compor organização criminosa;
10. Quendianderson Souza Ferreira, tem cadastro no Comando Vermelho com vulgo Terrorista, preso por tráfico de drogas e roubo;
11. Valdir Dantas Barroso, preso em 2015 durante operação em combate ao tráfico de drogas e roubo de camionetas pelo PCC;
12. Ayron Carvalho Souza, tem cadastro no Comando Vermelho com vulgo Sanção, preso por roubo;
13. Railan Silva de Souza, tem cadastro no Comando Vermelho com vulgo Perigo da Meia Noite, preso por tráfico de drogas e roubo;
14. Ruan Cleber da Silva Moura (três vezes);
15. Railton Souza da Silva, tem cadastro no Comando Vermelho com vulgo Pai Bobim;
16.Anderson Reis de Souza, sem condenação, mas investigado por, supostamente, pertencer a facção Bonde dos 13;
17. Jailson Oliveira da Silva, tem cadastro no Comando Vermelho com vulgo Magrelo, preso por roubo e outros crimes;
18. Antônio Carlos dos Santos Jardim, sem condenação, mas investigado por, supostamente, pertencer a facção Bonde dos 13;
19. Marcelo Augusto Félix de Araújo.
Ouvido em sindicância, Tales Tranin disse que tomou conhecimento de que suas visitas causavam incômodo ao ser notificado para prestar esclarecimento, e pontuou que as visitas eram estritamente para realização sexual mediante pagamento, não havendo relação entre seu trabalho e vida pessoal. Sobre o envolvimento dos monitorados em grupos criminosos, o promotor revelou que não tinha conhecimento.
Fonte: Ecos da Notícia