O placar de 5 desembargadores eleitorais contra dois indicados de Lula escancarou aquilo que se sabe desde que Moro se candidatou: o mundo político não vai perdoá-lo
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) recusou na
terça-feira, 9, a cassação do mandato de senador de Sergio Moro (União-PR,
foto). O placar foi de 5 desembargadores eleitorais contra dois indicados de
Lula, como resumiu Felipe Moura Brasil.
Apenas José
Rodrigo Sade e Lucio
Jacob Junior, ambos escolhidos pelo petista para participar do
julgamento, acataram as alegações de PT e PL de que o ex-juiz da Lava Jato
cometeu abuso de poder econômico por ter se apresentado como pré-candidato ao
Palácio do Planalto e ao Senado por São Paulo antes de se eleger senador pelo
Paraná.
O placar escancarou aquilo que se sabe desde que Moro se
candidatou: o mundo político, e em especial os petistas, , que falam tanto em
amor, não perdoaram — e
provavelmente nunca vão perdoar — o
ex-juiz pela Operação
Lava Jato.
Acusação
Seus acusadores fingem outras motivações, mas, antes mesmo
de o placar cristalizar a realidade, a razão essencial transparecia nas
próprias acusações, como destacou o relator do caso, Luciano Carrasco Falavinha.
Moro foi acusado até de caixa 2, algo que nem os indicados por Lula ousaram
endossar ao votar pela cassação.
“Não pode aquele que impugna domicilio
eleitoral de candidato – e sai vitorioso – depois impugnar candidatura por
excesso em outro Estado. É comportamento contraditório que busca impedir
candidato de participar da vida política”, diz Falavinha em um
trecho de seu parecer.
Vida política
Essa é a punição planejada pelo mundo político a Moro e
executada desde sua pré-campanha à Presidência: impedi-lo de participar da vida
política. É o que ocorreu com o ex-deputado Deltan Dallagnol, que
foi absolvido por unanimidade pelo mesmo TRE-PR, mas condenado, também por
unanimidade, no Superior Tribunal Eleitoral (TSE). É onde o futuro de Moro
também será decidido.
Além do cargo, há outro elemento que distingue os dois
casos: o julgamento de Moro no TRE-PR foi transmitido. E o relator deixou bem
claro, para quem quiser ver, que não há previsão legal para punir Moro, além de
chamar atenção para quais serão as consequências para as próximas eleições de
pesar a mão para punir o ex-juiz.
Ficou claro também, pelo voto de Sade, o que o TSE já havia
indicado na cassação de Dallagnol: em um julgamento político, as provas e as
leis não são exatamente o mais importante. O homem que o indicou para julgar a
campanha do ex-juiz já contou que dizia o seguinte na cadeia quando alguém lhe
perguntava se estava tudo bem: “Não
tá tudo bem, só vai estar bem quando eu foder esse Moro”.
Vulgaridade castiça
Moro sabe de tudo isso e tenta como pode manter o cargo.
Após o julgamento no TRE-PR, o senador disse que “há ainda um caminho pela frente”.
Sua audiência com Gilmar Mendes se
tornou pública com requintes de crueldade. A sessão de humilhação privada
ganhou os holofotes e a conversa foi reproduzida quase como se tivesse sido
gravada, em toda sua vulgaridade castiça.
O ex-juiz já tinha estendido a mão aos carrascos durante a sabatina de Flávio Dino para
o Supremo Tribunal Federal (STF).
O mundo político tripudia e Lula faz seus cálculos. Não valeria mais a pena cassar Moro,
diante do tamanho a que ele foi reduzido e dos possíveis impactos da
jurisprudência para o futuro, como alertou Falavinha.
O risco
Há o risco, de fato, como ocorreu com Dallagnol, de uma
punição desproporcional a Moro tornar ainda pior o sentimento da população,
que, em sua maioria, encara a Lava Jato como algo bom para
o país — não
por acaso, o Brasil caiu dez posições no
Índice de Percepção da Corrupção de 2023, divulgado pela Transparência
Internacional.
Dito tudo isso, será impossível dissociar uma futura
cassação de Moro no TSE do processo de derrubada da Lava Jato, por mais que os
responsáveis por fazê-lo tentem se esquivar da realidade.
Por Rodolfo Borges, O Antagonista