Bolsonaro roubou ideia de Ciro para Lula?


Ex-governador do Ceará sugeriu "formar o grupo de juristas para preparar a defesa" e "sequestrar" o petista para uma embaixada em resposta à Operação Lava Jato em 2016

A  estadia de Jair Bolsonaro (foto) na embaixada húngara quatro dias após ter sido alvo da Operação Tempus Veritatis, deflagrada em 8 de fevereiro como parte de investigação sobre trama de golpe de Estado, faz lembrar a sugestão de Ciro Gomes para blindar Lula contra mandado de prisão na Lava Jato.

“A Dilma [Rousseff] indicar o Lula para o ministério [da Casa Civil], para evitar a prisão, foi um disparate. Ela ultrapassou os limites do cargo. Não podia envolver a Presidência da República. Tinha que ter feito um gesto de solidariedade pessoal, não com o uso do cargo. Agora, no meu caso, se acontecesse uma prisão arbitrária do Lula, seria um gesto de solidariedade particular, formar o grupo de juristas para preparar a defesa e sequestrá-lo para uma embaixada”, disse o ex-governador do Ceará, ex-ministro de Lula e então pré-candidato à presidência da República pelo PDT em agosto de 2016.

Em março daquele ano, a nomeação de Lula para a Casa Civil de Dilma havia sido suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

“Pegar o Lula e entregar numa embaixada”

“Pensei: se a gente formar um grupo de juristas, a gente pode pegar o Lula e entregar numa embaixada. À luz de uma prisão arbitrária, um ato de solidariedade particular pode ir até esse limite. Proteger uma pessoa de uma ilegalidade é um direito”, reiterou Ciro.

Condenado em primeira instância no caso do triplex do Guarujá em julho de 2017 e, em segunda, em janeiro de 2018, Lula acabou sendo preso em 7 de abril daquele ano por ordem do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4), quando a prisão após condenação em segunda instância estava autorizada pelo STF, que havia negado, inclusive, um habeas corpus preventivo impetrado pela defesa. Apesar de toda a cena protagonizada pelo então ex-presidente no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo, onde fez comício e demorou a se entregar à Polícia Federal, ninguém o “sequestrou” para levar a uma embaixada.

O único “sequestro”, no caso, foi o da jurisprudência de 2016 que seus indicados e camaradas no STF reverteram em 2019 para tirá-lo da cadeia, graças à mudança de voto de Gilmar Mendes, que havia se voltado contra a Lava Jato após a força-tarefa ter atingido seu amigo Aécio Neves em 2017.

“Não há crime nenhum

Já Bolsonaro, que tem menos camaradas que Lula no Supremo, foi por conta própria passar dois dias na embaixada húngara em Brasília, onde “não pode ser preso” porque fica “legalmente fora do alcance das autoridades nacionais”, como registrou o jornal americano New York Times na segunda-feira, 25, ao revelar imagens da estadia.

“Não há crime nenhum [n]isso. Porventura dormir na embaixada, conversar com embaixador, tem algum crime nisso? Tenha santa paciência, chega de perseguir, pessoal”reagiu Bolsonaro na noite de segunda.

Lula tampouco via problema em refugiar-se, com foro privilegiado, na Casa Civil de Dilma.

Cada um com suas rotas de fuga.

 

Por Felipe Moura Brasil, O Antagonista

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